Ações contra a crise
15/12/2008

Um dia depois do anúncio oficial de uma série de medidas para aliviar a carga tributária dos contribuintes, permitindo uma folga no bolso para estimular o consumo, e de reduzir as alíquotas sobre veículos, algumas revendedoras já revisavam seus preços para baixo, voltando a atrair a atenção dos clientes. A iniciativa, em meio à agonia de grandes montadoras norte-americanas, que abalaram os mercados mundiais depois do impasse em um plano bilionário de ajuda oficial, demonstra a preocupação tanto do governo quanto da iniciativa privada de fazer a economia brasileira andar. Se a crise contrariou as expectativas do Planalto, atingindo em cheio a economia real, o jeito é enfrentá-la com ações eficientes e ousadas, o que vale tanto para o setor público quanto para o privado.
No caso do governo, é preciso reconhecer que, depois de uma hesitação inicial e de um esforço visível do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negar um maior impacto da crise global no Brasil, há agora a consciência de que é preciso e é possível enfrentar o problema à medida que as conseqüências se mostrem visíveis. Incluem-se nesse caso as alternativas anunciadas na última semana e que, a partir de agora, devem repercutir favoravelmente no consumo, contribuindo para ampliar a oferta junto à indústria e, em conseqüência, para assegurar um nível razoável de emprego. É o caso, entre outras medidas, da criação de novas alíquotas de Imposto de Renda, para aliviar algumas faixas de ganho, da redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para diminuir o custo dos financiamentos, e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), destinada a baixar o preço final dos veículos.
A estimativa é de que, desde o agravamento da crise global, de meados de setembro até agora, o governo brasileiro já destinou quase meio trilhão de reais para tentar aplacar problemas na área econômica. Um aspecto importante é que há folga para isso, pois a carga tributária tem se mantido em níveis recordes. Não há, portanto, riscos de cortes no orçamento ou ameaças ao rigor fiscal. Ao optar por uma redução na carga de impostos no esforço de estimular o consumo, o governo aproveita para corrigir um equívoco, que foi o de taxar pesadamente o contribuinte. Agora, é preciso que o setor público diminua os gastos de custeio, sem prejuízo dos investimentos, e que o privado faça sua parte, reduzindo os preços finais para o consumidor, o que permitiria uma desova dos estoques, com a elevação das vendas.
O importante é que nem o setor público, nem o privado se contentem com medidas definitivas diante de uma crise que continua surpreendendo de diferentes formas a cada momento. O fundamental, no caso, é enfrentá-la com eficiência, limitando os prejuízos à economia real e, em conseqüência, aos níveis de emprego.
(Fonte: Editorial Zero Hora)
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