
O
governo Yeda Crusius perdeu ontem o homem que, por dois anos, deu rosto
ao ajuste fiscal. Com a baixa de Aod Cunha, secretário da Fazenda, o
Palácio Piratini planeja agora pisar no acelerador e evitar um vácuo na
agenda política. Daqui para a frente, o ajuste fiscal passa a segundo
plano e entram em cena os investimentos. A governadora acenou com
outras mudanças no secretariado (leia mais na página 11).
O
desligamento do economista de 40 anos foi anunciado na manhã de ontem
por Yeda no Palácio Piratini. Nos dois primeiros anos de gestão, foi
dele a responsabilidade de conduzir o esforço que resultou no déficit
zero depois de décadas de desequilíbrio nas contas públicas gaúchas. A
governadora disse que o auxiliar – que permanece no cargo até
segunda-feira – conquistou “valor de mercado muito grande” e que era
hora de liberá-lo, respeitando um acordo entre ambos: a permanência de
Aod estaria ligada ao alcance do equilíbrio financeiro.
– A
saída de Aod é um orgulho nosso. Ele vai tomar a decisão dele (sobre
futuro profissional), mas sei que vai exportar o modelo gaúcho. E eu já
digo: pode exportar o modelo, mas a governadora não vai junto – afirmou
Yeda, ressaltando as condições políticas que permitiram a atuação do
secretário.
Interinamente,
o secretário-adjunto Ricardo Englert assume o comando da Fazenda. Aod
revelou que, após seis anos como gestor público, na Fazenda e na
Fundação de Economia e Estatística (FEE), vai tirar férias. Sua
intenção é descansar alguns dias na companhia da família em Imbituba,
litoral de Santa Catarina. Depois, vai decidir o futuro. Funcionário de
carreira da Fazenda, tem convites para dar aulas nas universidades
americanas de Harvard e Columbia e para atuar como consultor do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
– Há tempos eu
havia falado com a governadora sobre minhas escolhas de vida. Acordamos
que o objetivo era atingir o ajuste fiscal. Havia combinado que,
atingida essa meta, eu pudesse ter outro rumo do ponto de vista das
minhas escolhas profissionais – disse Aod.
Para o governo, o
objetivo agora é despersonalizar o ajuste fiscal. Yeda deixou isso
claro ao afirmar que o Executivo tem vários “Ronaldinhos” – numa
referência a Aod –, “muitos goleiros” e “campeãs mundiais de futebol”:
– Não adianta ter ataque sem defesa. Temos um time completo.
Para
colegas de governo e dirigentes empresariais, a tarefa de manter as
conquistas do orçamento equilibrado em um cenário mais desafiador do
que o de 2008 sofrerá um deslocamento da Fazenda para o Piratini. Além
da atividade econômica menor, começa a se aproximar um ano eleitoral e
o apetite por gastos.
– Quem vai segurar a pressão política é a governadora – avalia um interlocutor do Piratini.
Presidente
da Federasul, José Paulo Cairoli fez há menos de um mês críticas ao
excesso de marketing sobre o ajuste fiscal, mas ontem confessava:
– É uma perda. Além de excelente
técnico, Aod é um articulador político. Será difícil substituir alguém no
estágio de credibilidade a que ele chegou. Agora, Englert tem toda a capacidade, e essa troca seria a menos traumática.

Em gráfico, conheça a trajetória de Aod Cunha
Equilíbrio fiscal será tratado como rotina
Cairoli
ressalta, porém, a exemplo do que fez no balanço de 2008, que dois
terços do ajuste foram obtidos graças a fatores que não vão se repetir
este ano: inflação alta e intensa atividade econômica. Por isso, avalia
que será preciso fazer reformas estruturais para manter a conquista.
Mas é o depoimento do dirigente que dá a medida da perda para o
Piratini:
– Tivemos atritos duros com Aod, como no caso
da proposta do aumento de impostos, mas mantivemos uma relação excelente. Podíamos discordar
profundamente sem perder o respeito, por isso sinto muito a saída dele.
Nos
planos do Piratini, no entanto, o equilíbrio das contas pode ser
tratado como uma rotina a ser mantida por equipes técnicas, não mais
como principal meta. A cúpula do governo vai ressaltar a importância de
um orçamento equilibrado, pelo qual os secretários têm certeza do valor
que terão para aplicar. O superávit de R$ 300 milhões de 2008 dá
segurança para o Executivo enfrentar os primeiros efeitos da crise
mundial no Estado.
O foco do Piratini vai estar na aplicação dos
recursos em obras e novos serviços. O orçamento de 2009 prevê R$ 1,25
bilhão em investimentos com recursos do Tesouro estadual.
– O Estado vai voltar a investir depois de ter passado anos em situação vegetativa – diz um integrante da cúpula do governo.
Os
valores serão aplicados nos 12 projetos prioritários lançados por Yeda.
Conhecidos como programas estruturantes, os planos prometem melhorar os
indicadores sociais gaúchos até o final do governo. São os
estruturantes que Yeda planeja ver como marca da sua administração.