Os nós górdios dos serviços públicos
15/04/2009
Que os brasileiros têm uma das maiores cargas tributárias do mundo, hoje girando em torno de 35% do Produto Interno Bruto (PIB), todos sabemos. Isso, por si só, já é algo de causar espécie. Contudo, o maior problema está no que se faz ou se deixa de fazer com esse volume imenso de recursos. Para onde quer que olhemos, multiplicam-se os exemplos de mau uso de verbas e de desperdício dos recursos públicos. A educação, de conjunto, carece de qualidade. Os exames de aferição indicam que os alunos não estão aprendendo a ler nem a efetuar operações matemáticas. As verbas vinculadas ao ensino não chegam às salas de aula, onde os professores recebem salários aviltantes e os alunos desobrigam-se de estudar por conta das pressões para aprovação que só servem para forjar estatísticas. Não é menos impressionante, no sentido negativo, a realidade da saúde pública. Faltam verbas, médicos e equipamentos. Conseguir uma consulta, que deveria ser algo rotineiro, transforma-se numa tarefa hercúlea, com filas imensas. Os corredores dos hospitais transformam-se em lugares de atendimento, se é que se pode chamar assim esse ambiente de dores e desatinos. A segurança pública é outro setor em que as coisas vão de mal a pior. Os policiais recebem vencimentos risíveis, falta efetivo, viaturas e material de trabalho estão em condições precárias. Os presídios se transformaram em verdadeiros depósitos de seres humanos, os quais, diante do tratamento recebido, não se recuperam e, em sua maioria, voltam para as ruas ainda mais propensos a praticar crimes e delitos. Enquanto isso, as verbas existentes são destinadas para manter cartões corporativos, privilégios parlamentares, pensões vitalícias de ex-governadores e ex-presidentes e mordomias das mais diversas ordens por conta dos contribuintes. Há uma estimativa de que somente um terço do que é arrecadado com tributos e cobranças retorna como serviços. Certamente, os dois terços restantes vão para custear despesas a bel-prazer dos governantes. O país tem uma das piores distribuições de renda. Com um dos maiores percentuais de arrecadação, temos também uma das máquinas administrativas mais caras e pesadas do mundo. Cabe desatar tal nó de ineficiência.
(Fonte: Editorial - Correio do Povo)
|
|